Você já ouviu falar em altas habilidades e superdotação? Na Universidade Federal de Santa Maria, o Grupo de Enriquecimento das Inteligências Múltiplas, o GEIM, promove atividades para crianças que, grosso modo, são muito inteligentes e precisam ser incentivadas no dia a dia para além da escola comum.
Cerca de 30 crianças e pré-adolescentes, de sete a 13 anos, participam do projeto de extensão do GEIM na área de altas habilidades/superdotação. A iniciativa é coordenada pelas professoras Andreia Devalle Rech e Tatiane Negrini. Nos sábados, a cada quinze dias, pais e filhos se reúnem no Centro de Educação, na UFSM, para participar das atividades.
Enquanto os pequenos se dividem em quatro grupos, como Biologia, Realidade Aumentada, Robótica e Artes, os pais participam de palestras, bate-papo e formação com profissionais da área para entender e incentivar a inteligência dos filhos.
E são as crianças que escolhem em qual grupo querem ficar de acordo com a afinidade e interesse que possuem. O Renan Santanna Motta Gularte, 11 anos, por exemplo, decidiu fazer parte da turma de Robótica. Durante a última aula do primeiro semestre do projeto, ele aprendeu a movimentar um pequeno robô.
– Tá sendo muito legal porque quando eu era pequeno sempre quis ser inventor e programador, mas na escola não tive muitas oportunidades de aprender isso. Aqui eu tô aprendendo bastante. Já sabia um pouquinho, criei um jogo no computador e baixei no celular. Então, quero ser programador quando crescer. E eu adorei movimentar o robô, no início foi difícil, mas aprendi bem rápido os comandos – comemora Renan.
Assim como o Renan, na turma de Realidade Aumentada, o pequeno Guilherme Silva de Moraes, 8, também tem o desejo de aprender a criar jogos. Ele está no terceiro ano do Ensino Fundamental e foi escolhido para participar da produção de um jornal da escola. Curioso e inteligente, ele quis saber como funciona a produção do jornal impresso do Diário.
– Eu sempre quis criar um jogo e agora eu tô podendo fazer isso. Sempre quis ter vários planos para o futuro, como ser youtuber, criar jogos, essas coisas tecnológicas. E hoje podemos fazer isso nas aulas. Ah, e a gente quer saber como fazer a logo de um jornal. Será que dá para fazer no Paint? – questionou o pequeno.
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Já em outra sala, os pequenos se divertiam na atividade da turma de Artes que foi integrada com a de Biologia. A proposta foi aliar os conhecimentos sobre dinossauros e modelar o animal em argila. Com a diversão garantida, quase toda a turma quis falar. A Cecília Passos Silva, 10, o Carlos Prestes Fagundes, 10, a Peppa Xavier Porto, 9, a Bianca Eich Ilha, 10, o Gabriel Magnago Ramos, 9, e o Luigi Gularte dos Santos de Lima, 9, adoraram driblar desafios para criar um dinossauro de argila.
– Nossa, não achei que fosse ser tão difícil. Precisei usar vários palitinhos de madeira para manter o dino de pé. E foi bem demorado, a gente precisou ter paciência. Alguns até caiam a cauda. Mas o resultado foi bem divertido – comenta Peppa.
Para compartilhar experiências
Para as famílias, acompanhar os filhos nas manhãs de sábado na UFSM é uma atividade levada a sério. A professora Giana Friedrich, 40 anos, conhece a iniciativa há anos, antes mesmo do GEIM ser formado. Isso porque o Centro de Educação tinha um projeto parecido, que também incentivava a inteligência de crianças com altas habilidades, e que, anos depois, foi complementado. O filho mais velho de Giana, Felipe Jacob, 21, participava do grupo. Hoje, ele é estudante de Música na UFSM. Agora, é o pequeno Matheus Jacob, 8, que frequenta as aulas.
– Com esse aprendizado que eu fui tendo no grupo de pais, comecei a perceber algumas características no pequeno, bem diferentes do outro. E as altas habilidades são assim, cada indivíduo tem as suas particularidades. Estamos há anos participando e tem sido incrível – diz Giana.
Ao contrário da famílias de Giana, o gerente administrativo Marcos Frantz, 39, participa há menos tempo do projeto, mas já consegue perceber muitas mudanças no dia a dia do filho David, 7, e na relação que tem construído com o pequeno:
– Aprendemos a conhecer melhor as capacidades e limitações dele. E conseguimos trocar experiências com outros pais, então nos sentimentos mais confortáveis. O David está muito mais interessado, não fica entediado facilmente e também socializa com as outras crianças.
Além disso, pais e mães comemoram a rede de apoio que o grupo ajuda a criar e fortalecer. O policial militar Claudinei Caetano, 37, é pai da Peppa, que se diverte muito nas aulas de Artes. Antes de participar do projeto, a família tinha dificuldades em encontrar programações de lazer para entreter a filha.
– Tem sido muito importante porque contamos com uma rede de acolhimento do grupo GEIM que nos auxiliou no processo de entender as características da minha filha. Já são quatro anos participando. E isso despertou nela outras características, explorou outras inteligências. Às vezes é difícil descobrir programações e outros tipos de entretenimento e lazer que divirtam ela e o grupo nos ajuda muito nisso, enriquece as opções – ressalta.
Trabalho contínuo
No grupo, o trabalho do coletivo de professores e alunos voluntários que fazem parte das atividades é intenso. Segundo uma das coordenadoras, Tatiane Negrini, o primeiro semestre de 2022 do foi muito produtivo e sinaliza para a potência da iniciativa em Santa Maria.
– As crianças têm oportunidade de se encontrar com seus pares, ou seja, com quem tem os mesmos interesses que eles, e podem desenvolver ainda mais os potenciais nessas áreas. Nós acreditamos que esse trabalho de enriquecimento é muito importante, seja ele realizado dentro da escola ou fora, como é o caso do nosso projeto – explica.
As conversas realizadas juntos aos pais também são parte fundamental do trabalho realizado pelo GEIM. De acordo com a coordenadora Andréia Rech, a participação da família ajuda a fortalecer a relação com os pequenos, além de incentivar o enriquecimento das inteligências de cada um.
– É importante lembrar que, mesmo com altas habilidades, eles são crianças que estão em desenvolvimento. Tem o emocional de crianças. Por isso que é importante termos esse grupo de pais atentos e sensíveis que estão dispostos a aprender mais e a dividir experiências – enfatiza a professora.
As atividades do projeto na área de altas habilidades e superdotação retorna em 12 de setembro, de acordo com o calendário acadêmico da UFSM. Interessados em participar podem enviar email para projetosahsd@gmail.com e conversar com as coordenadoras da iniciativa.
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Leandra Cruber, leandra.cruber@diariosm.com.br